Este episódio passaria quase despercebido no panorama nacional, se não fosse o
protagonismo que o principal envolvido viria a alcançar na composição das
figuras mais mediáticas da cultura do nosso país.
Em 1932, o jornal O Século publica um anúncio para
preenchimento de uma vaga como conservador-bibliotecário no Museu Condes de
Castro Guimarães, em Cascais. Até aqui, nada de novo… Mas eis que uma das
personagens (agora considerada) definitivamente marcantes de Portugal do século
XX decide candidatar-se ao cargo. Nada mais nada menos que Fernando Pessoa.
Sim… o mesmo Fernando Pessoa que hoje nos delicia com obras poético-literárias,
afinal, queria ser bibliotecário.
Na sua carta de candidatura datada de 16 de
Setembro de 1932, Pessoa refere-se desta forma ao anúncio publicado pelo
jornal:
No texto do artigo 6, propriamento dito, do Regulamento, diz-se
que é necessário que o conservador-bibliotecário seja pessoa de «reconhecida
competência e idoneidade». Salvo o que de competência e idoneidade está
implícito nas habilitações indicadas como motivo de preferência nos parágrafos
do artigo, e portanto se prova documentalmente pelos documentos referentes às
indicações de cada parágrafo, a competência e a idoneidade não são susceptíveis
de prova documental. Incluem, até, elementos como aspecto físico e a educação,
que são indocumentáveis por natureza. (Bonnet, 2010)
Claro está que, até pela forma discursivo-argumentativa de resposta ao anúncio, Fernando Pessoa nem sequer viria a ter hipótese de conseguir o lugar a que se candidatava. Deixou-nos, porém, um brilhante testemunho que nos leva a reflectir sobre o paradigma do perfil e requisitos considerado necessários para o exercício da profissão. Um concurso para um lugar como conservador-bibliotecário, no já distanciado ano de 1932, referindo-se à competência, idoneidade, aspecto físico e educação como elementos de importância relevante para execução do cargo.
Fonte:
Bonnet, J. (2010). Bibliotecas cheias de fantasmas.
Lisboa: Quetzal.
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